"O milagre cigano da música do silêncio"
- Por Casa Estrelas
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- 24 abr., 2019
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Hoje trazemos a você uma história incrível e digna de servir como espelho de uma cigana que vive hoje em nossa época.
Hoje trazemos a história de uma cigana espanhola chamada La Singla que desde pequena não ouvia e que teria na prática todos os motivos do mundo para não subir em um palco e bailar , mas que demonstrou ao mundo que quando o coração e a alma desejam , tudo pode acontecer.
Bailaora Cigana Antonia Singla Contreras - La Singla
Antonia Singla Contreras é uma bailaora cigana e atriz espanhola que nasceu em 1948 em Barcelona. Seus avós eram ciganos franceses de Roussillon e Perpignan.
Nascimento e surdez e o apelido " La Múa"
Depois de alguns dias de seu nascimento, ela teve uma doença que na época pelos sintomas deveria ser uma meningite grave e a fez sentir muitas dores . Como consequência dessa dor que sofreu desde o nascimento, ela ficou surda e por conta disso também não falava.
Sua mãe, Rosa, também responsável por seus outros 17 filhos, decidiu lutar pela filha e depois de levá-la a inúmeras consultas médicas, todos concordaram com o diagnóstico: a menina era surda-muda. Apenas um deles lhe deu uma única probabilidade, Dr. Ramos, que lhe garantiu que se a menina tivesse uma chance remota de falar em algum momento, seria depois de 7 ou 8 anos, se não, ela deveria perder toda a esperança e definitivamente. De fato, aos 8 anos, Antoñita falou com a surpresa dos moradores de Somorrostro, que a conheciam pelo apelido de "la múa".
Primeira palavra " mamãe" e anos de esforço
Curiosamente, diz-se que sua primeira palavra foi "mamãe". Também é comentado que, quando criança, Antoñita capturou as notas do violão através de vibrações e palavras, lendo os lábios para seu interlocutor. Depois desse primeiro grande passo, para dizer sua primeira palavra, muitos outros o seguiram, sempre com grande determinação e esforço da parte dela, porque ela precisava recuperar todos aqueles anos que passara em silêncio.
A dança que surge da alma
"Quem fala de dança ortodoxa, ajustada a alguns cânones a um ritmo e a um quadrado? Zarandajas! Singla estava inventando a dança para alegrias. Seus calcanhares bateram no tablao como se estivessem em um grito angustiado. Como se, de repente, eu quisesse afastar o fantasma da fome e uma infância cheia de silêncio "
fonte: wikipédia
La Singla começou dentro da comunidade cigana a aprender a bailar muito tarde e o fazia com extrema dedicação e fome de viver , mesmo com a audição quase inexistente devida a doença que a assolou desde o seu nascimento.
Ela via sua mãe bater as palmas e ia assimilando o ritmo e transformando-o em um baile cheio de " duende "e de sentimento. Aprendeu a bailar rumbas, sevilhanas, enfim e começou a deslumbrar e emocionar a todos que a viam bailar. Algo único e mágico.
Carreira artística internacional e apontada como " sucessora de Carmem Amaya"
BailaoraAos 12 anos de idade começou a bailar nas tabernas de Barcelona e seu talento a levou a Paris, Berlim entre outras cidades, inclusive no continente americano.
Participou de um projeto junto com Paco de Lúcia, Camarón de la Isla entre outros em 1960 de flamenco gypsy que deu força para que se pensasse em investir mais em festivais de flamenco. O interessante era que La Singla se tornou mais conhecida fora da Espanha.
AtrizEm 1963, ela participou como atriz e dançarina no filme Los Tarantos , dirigido por Francisco Rovira-Beleta e dirigido por Alfredo Mañas. Carmem Amaya a conheceu nesse filme.
Velhice
Devido a outros problemas de saúde relacionados a tireóide , sua carreira não foi longa e ela se retirou dos palcos bem cedo aos 29 anos. Mas o viveu o suficiente para se realizar como artista.
Hoje, La Singla vive longe dos tablados tranquila com sua família.
Trechos de uma entrevista de março de 2015
Foi muito feliz apesar de não ouvir e não falar?
Sim , me chamavam " la múa", não disse nada até os 14 anos. De bebê tive uma infeção que danificou meus tímpanos e então disseram a meus pais que eu seria surda e muda.
De onde tirava inspiração para bailar?
Eu tirava o ritmo da vibração dos sons. Dos carros, do trem, das ruas . Tudo isso era inspirador para mim e os passos saiam. Fui aprendendo sozinha e a base de muita disciplina. Assim, quando comecei a bailar melhor e atuar em público, eu desenvolvi uma maneira de acompanhar o músico vendo-o tocar o violão.
Você se recorda de Carmem Amaya durante a gravação de Tarantos?
Sim, ela era estupenda e gostava muito de mim. Gostava de me ver bailar e queria me levar para América, mas eu era muita jovem e não me deixaram. Me disse que eu seria sua sucessora.Nós duas nos pareciamos, porque éramos de famílias muito humildes e simples e bailávamos com muita força.
Quando estiverem se sentindo fracassados e com o mundo todo contra vocês , sem forças para continuar lembrem desse menina cigana que desafio e encantou o mundo bailando sem ouvir com os ouvidos externos , mas com os ouvidos da alma. Sentindo a vibração com o coração. A conexão com os deuses, com seu interior a fazia grande nos palcos e sua luz brilhou.
Deixou para vocês uma apresentação dela junto com alguns grandes músicos do flamenco de nossa época.
Deus está no comando!
Optchá!
Dalillá Ferrari