Na semana que precede à celebração, os ciganos chegam à noite e rumam para a Igreja –fortaleza de Saintes Maries de La Mer, acompanhados por violinos e violões. Uma vela central grande é acesa e erguida entre a multidão de velas menores nas mãos das pessoas. Fervorosas são as orações e preces recitadas e crianças são apresentadas às imagens das Santas. Durante a peregrinação em Maio, o catecismo é ensinado em caravanas e muitas conversões são feitas.
Muitos ciganos usam essa peregrinação como uma assembléia familiar e como um tempo para batizar suas crianças na igreja de Saintes-Marie de La Mer. À noite, eles visitam a cripta de Sara, sempre presente apoiando-os, neste antigo santuário em Camargue.
Em verdade, Santa Maria Jacobé e Santa Maria Salomé também têm um lugar em seus corações. Eles as aclamam durante a descida do santuário para o mar,erguendo suas crianças em direção ás imagens, para que elas também possam colocar suas mãos e lábios. Mas é Sara que é a verdadeira santa dos ciganos.
Cada um acrescenta “à floresta ígnea branca” que se esparrama apela cripta da capela. Próximos à imagem de Sara la Kali, são colocadas notas com intenções, bem como linho, roupas de crianças, jóias humildes e mensagens ingênuas, símbolo dos ciganos do 15º século, que chegaram na França, aparecendo como penitentes, reivindicando a serem condenados a vagar pelo mundo em expiação dos seus pecados.
Para apoiar esses pedidos, eles levavam carta do Papa Martinho V durante a idade média. Eles também fizeram peregrinações a São Thiago de Compostella. Por razões que ainda são obscuras, a lenda de sara foi adotada pela capela local de Saintes Maries de La Mer, embora a ela nunca tenha sido conferida santidade pela igreja católica.
A primeira menção histórica de sara é encontrada em um texto de Vicente Philippon escrito em 1521: A lenda das Santas Marias, em páginas manuscritas que permanecem na Biblioteca de Arles.
Na lenda, cota-se que Sara viveu e viajou por Camargue para prover as necessidades de uma pequena comunidade cristã. A prática de implorar por esmolas deu aos escritores uma razão para fazer de Sara uma cigana.Conhecida como a protetora dos ciganos, Sara é um enigma histórico difícil de se resolver.
A tradição de Camargue diz que ela a criada das Santas Marias Jacobé e Maria Salomé na Palestina, e companheira em sujas jornadas pelas áreas do Rio Rhôme na França.
Outra tradição, atribuída aos Roms, conta que Sara era uma cigana vivendo na costa da região da Provença, que salvou as Santas Marias de uma tempestade no mar.
Outras histórias foram igualmente propostas. Uns dizem que Sara era uma abadessa egípcia vinda de um grande convento na Líbia. Outros dizem que ela foi uma figura proeminente entre um grupo de mártires persas que, junto com as duas Marias e Marta aportaram de navio em Gaule.
Finalmente, um texto apócrifo do 11º. Século nos mostra uma Sara, descobrindo com Marta, Maria Jacobé e Maria Salomé, a tumba vazia de Jesus, e partindo para anunciar com os apóstolos as notícias da Ressurreição de Cristo.
Uma antiga tradição provençal descreve as primeiras figuras cristãs, Maria irmã da Virgem, e Maria mãe de St. James e St. John; juntos com seus servos núbios.
De acordo com essa tradição eles escaparam milagrosamente da perseguição na Judéia, perto do ano 40 d.C.; chegando à Saintes Maries de La Mer numa frágil embarcação.
Suas relíquias foram postas em um oratório, local que foi substituído no 12º século, atual Igreja-Fortaleza.
Na verdade, ninguém sabe quem realmente Sara era, ou como o culto à Sara veio para Saintes Maries de La Mer, onde os peregrinos vinham rezar bem antes da Revolução Francesa.
Para os ciganos, ela é Sara La Kali, uma palavra que tem dois significados: Sara a cigana e Sara a negra.
Os próprios ciganos não questionam sobre a autenticidade de Sara. Milhares deles seguem em uma procissão solene no dia 24 de maio, seguida de uma descida da imagem,do santuário para o mar.
As ruas estreitas de Saintes Maries de La Mer, transbordam e, a cavalo, os guardiões de Camargue escoltam as frágeis imagens das Santas Marias até o mar, que são carregadas por homens especialmente escolhidos que seguem entoando incansáveis cânticos e hinos, gritando milhares de vezes: “Viva Santa Sara”!
Oração de Santa Sarah
Sarah ! Sarah ! Sarah !
Fostes escrava de José de Arimatéia, no mar fostes abandonada.
Pedi para que nada nos abandone… teus milagres no mar se sucederam e como santa se tornaste à beira do mar chegaste e os ciganos te acolheram.
Sarah, rainha, mãe dos ciganos, ajudai-te e a ti eles consagraram como sua protetora e mãe vinda das águas.
Sarah, mãe dos aflitos a ti imploro proteção para o meu corpo luz, para meus olhos enxergar até no escuro. Pedi forças para meus olhos, vidência, luz para o meu próprio espírito e amor para todos os meus irmãos, brancos, negros, mulatos, enfim à todos que me cercar e a todos que me desejam mal. Tú com as águas me fará vencer. (tomar 3 goles d’água).
Sarah ! Sarah ! Sarah !
Não sentirei dores, nem temores e continuarei caminhando sem parar, assim como as caravanas passam no meu interior, tudo passará e a união comigo ficará e sentirei o perfume das caravanas que passam deixando o rastro aos pés de Maria Santíssima.
Tu Sarah, me colocarás e a todos que me cercam para que possamos vencer as alguras que a Terra nos oferece.
Sarah ! Sarah ! Sarah !
Não sentirei dores, nem tremores, espíritos perdidos não me encontram e assim como conseguistes o milagre do mar, da alegria e felicidade, teu ensinamento deixará.
Amai-vos Sarah, para que possa ajudar a todos que me procuram, ajudados pelos poderes dos não irmãos ciganos. Serei alegre e compreensiva com todos que me cercam. Corre no céu, corre na terra, corre no mundo e Sarah, Sarah, Sarah, estará sempre na minha frente.
Assim como os ciganos pedem, Sarah, fique sempre à minha frente, Sempre atrás, do lado esquerdo, do lado direito e assim dizemos: somos protegidos pelos ciganos e pela Sarah que nos ensinará a caminhar e perdoar”.